olheiras cor cinza, cavadas, carregadas. Conferem-me um ar cansado e não mentem. Considero-as dignas
Rugas em número de 4.
duas delas profundas as outras duas irrelevantes.
septo nasal desviado.
deveria ser operada.
não quero ser operada
Rugas em número de 3.
Profundas, marcadas.
Rugas em número de 3.
Profundas, marcadas.
olheiras cor cinza, cavadas, carregadas. Conferem-me um ar cansado e não mentem. Considero-as dignas
A Flora Matos tem idade para ser minha filha e isso me enternece. Assim escrito. É das rappers mais interessantes do Brasil. Influenciada pelas negras americanas de vida dura e resistentes à violência da vida, Flora canta sobre a independência económica da mulher, a única forma de libertação e sobre os homens que destratam mulheres, digo eu, sobre a vida que destrata as pessoas e as mulheres em particular.
Os homens, para ser franca, não sabem a quantas andam. Que leiam e se dediquem a produzir pensamento, pois o tempo é todo deles.
De facto, ser autónoma implica uma escolha na vida. Ou você corta com essa ideia de família e filhos, ou você luta pela sua autonomia, família e filhos e se desdobra, na maioria dos casos, em duplas jornadas quando deveria responsabilizar seu companheiro ou ex-companheiro de forma implacável. No primeiro caso por estar presente e apenas «ajudar» , no segundo caso porque está lá na dele e você na sua ainda mais dura forma de vida. Se não for a justiça a tratar de ser justa para com essas mulheres mães que se obrigaram a criar filho e entregar o seu tempo à casa, se não for a justiça a explicar que isso não é motivo de vergonha, não é a classe média que lho vai dizer. O sistema capitalista criou esse ardil. Simultaneamente mostra a importância da independência económica , mas chama para si os filhos das mulheres que os têm, oferecendo-lhes o presente envenenado do cansaço. A vida das mulheres avançou, mas recuou em matéria de direitos humanos. Repito, em matéria de direitos humanos. A mão de obra é precisa, os impostos são fundamentais, a produção tornou-se o único motivo e motor da existência. Ouvir a alegria na voz de alguém que diz : «estou em férias» é claramente agradável, mas interpela. De onde vem tamanha felicidade por chegar ao período de férias? Que férias? Que férias têm as mulheres dos filhos com maridos? Que férias têm as mulheres dos filhos com pais ausentes/presentes de 15 em 15 dias ou durante um mês assim ou assado? Que rugas são as minhas rugas de idade, sofrimento, mágoa e de riso herdado de família. Antes de chegar aquele dia funesto, David Foster Wallace foi convidado a escrever numa revista de culinária gourmet, seja lá o que isso for, que a mim me dá ares de coisa barricada dentro do design mais irritante, bom, daí temos esse texto espantoso sobre o nosso viver tão carregado, nada democrático, cheio de um confortável desconforto e iniquidades Só Platão percebeu o que aí vinha. Consider the Lobster. Também deixo o link para o Manifesto do Partido Comunista