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«En chacun de nous, il y a comme une ascèse, une partie dirigée contre nous-mêmes. Nous sommes des déserts, mais peuplés de tribus, de faunes et de flores. (...) Et toutes ces peuplades, toutes ces foules, n'empêchent pas le désert, qui est notre ascèse même, au contraire elles l'habitent, elles passent par lui, sur lui. (...) Le désert, l'expérimentation sur soi-même, est notre seule identité, notre chance unique pour toutes les combinaisons qui nous habitent.» G. Deleuze, Dialogues

Comprei este livro em 2006, Bruxelas. FNAC. 7,20 euros. Colecção amarela Champs da Flammarion. Em Bruxelas, a FNAC fica num dos poucos Centros Comerciais existentes. Na Rue Neuve, uma das minhas ruas preferidas por ser das compras e das pessoas ziguezague, ziguezagueantes. Esses momentos de liberdade, dedicava-os à observação, escrita, leituras inúmeras. Em Bruxelas recomecei a ler como lia quando era miúda: muito. Depois enviavam-me uma sms e eu lia «onde estás?», e respondia e a vida perdia a graça, a leveza, o ar tornava-se pesado. «Onde estás?» sempre foi uma pergunta que servia para controlar e organizar o tempo de quem quer saber onde está o outro. Era uma pergunta que me indicava ser tempo de deixar de ser eu, comigo, confortável nas minhas coisas.  

Mais tarde conheci outras pessoas de quem me fartei enormemente. Enormément. Pareillement. Ah. Via passar as muçulmanas dentro das suas fardas oficiais/oficiosas, quase sempre agarradas a bebés, filhos, filhas. Crianças. Bonitas muçulmanas. Eles nem por isso. Os mais novos traziam o cabelo rapado dos lados, excepto em cima, falavam alto e isso, via-se, dava-lhes gozo e poder. Nunca passei por belga ou portuguesa. Isto não interessa nada. Deleuze devia abrir todos os livros que escrevi e não publiquei. Não tenho pressa. Se partir, alguém se ocupará de honrar o meu nome e existência. Se tal não suceder, lançarei dos céus pedras e raios e trovões. No excerto de Deleuze está tudo o que se passa durante o tempo em que andamos na terra. Com algumas pessoas, diga-se, um tempo muito estúpido que sempre me deu sono. 

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