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Moondog assim se chamava Moondog: «in honor of a dog who used to howl at the moon more than any dog I knew of»

Estava deitada a ouvir Moondog pela manhã. Antena 2. Não me recordo porque raios havia Moondog na Antena 2 porque oiço dissociada, entre o sono cansado do passeio do cão e o calor do corpo musculado. É curioso, mas depois de me explicarem com termos médicos, dos que aprecio por me serem alheios, enfim, garantiram-me que aos 58, nenhuma mulher que engorde volta ao que foi. Estranho. Estou a regressar ao meu estupendo peso e observo as pernas mais lisas. Esta ideia nasceu-me da teimosia pois se me garantem tal, me quedo a pensar se será assim ou não. Tudo por conta do Moondog que se chamava -- conforme todos sabem, todos ignoram -- Louis Thomas Hardin. É o que estamos agora a ouvir enquanto se pode analisar a colecção de fotos sem uma única referência aos autores. Tudo roubado da Net. Pois Moondog tem uma capa de disco em que a figura dele parece uma encenação que nunca foi. Compositor, músico, cego, poeta, o «viking da 6ª avenida» não trabalhava como tu. Andava pela rua, aquela que referi, e foi o perfeito músico de rua. Conheceu Bernstein, and who fucking cares! O que me encanta no Moondog é a disponibilidade para nada. Não existia nele a avidez deste século marado. Se estava, estava; se não estava, não estava. Viveu na Alemanha provavelmente ajudado por uma rapariga chamada ................... não me recordo do nome e recuso-me a googlar. Inventor de instrumentos, Steve Reich levava-o a sério, ouvia-o com a solenidade dos momentos em que ouvimos bons sons. 

Mesmo que no limbo, torpor confortável entre olhos abertos, olhos fechados. Como os de Moondog cego desde cedo. Os cegos sonham. Creio que morreu nos anos 90. Sei que nasceu em Setembro. O Kronos Quartet tem uma versão densa, espantosa de um dos mais belos temas alien de Moondog que também se dedicou ao disco para crianças cantado pela Julie Andrews, não é surpreendente?

Era aqui que pretendia chegar: tudo o que não me aborrece é o que me surpreende. Essa a vida de artista, não pode ser outra coisa. Quem diz artista, diz escritor, poeta, professor, actor, o raio que vos partam. Quando as rotinas se instalam, alapam as rotinas à vida, as pessoas perdem-se no meio de todos e ninguém e apenas os mais interessantes se adaptam e resistem. Os outros ficam-se pelo lado mais chato que pode não ser insuportável, mas banal e mau, mauzinho, parvo, parvinho. Este ano de 2016 não me deixa saudades de coisa alguma. Continuo a ver os casais do Natal, encasacados, aborrecidos, caras fechadas, que chatos, que engraçado vê-los passar e pensar que já andei assim com aquela cara? Não pode ser. Pode? Não há vikings inventores de instrumentos musicais ou canalizadores com expediente? Não por acaso, acabo de arranjar um cano. Posso ser canalizadora, mas viking ainda não. Contudo, na minha vida há umas mulheres viking e assim contado pelos dedos da mãos um ou dois homens dessa forte natureza. Boa da bondade. 

 

Vem aí o Laplantine. Depois dou novidades. 

 

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