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uma vida desarrumada, revolucionária, desafiante

« I still only travel by foot, and by foot it´s a slow climb /But I´m good at being uncomfortable.» Fiona Apple desafia a ordem, desarruma o mundo, sai dos limites  estabelecidos, direi antes, previamente desenhados; compõe as canções, canta-se com a voz ora limpa, ora suja, rouca. Fiona, bebe água, torna-te límpida. É como ela quer, nem muito, tão pouco. Quando lhe apetece, aparece, quando aparece já se percebe que desaparecerá. 

O protagonismo de Fiona é, apesar dela. A The New Yorker de 16 de Março dá espaço a Emily Nussbaum para uma longa prosa: «Fiona Apple´s Art of Radical Sensitivity». O novo disco "Fetch the Bolt Cutters" chega-nos lentamente. Fiona não se apressa. Nussbaum descreve o ambiente que vê-sente e nesta dualidade revela-se a intimidade nem sempre controlada. Mais que inspiradora, ler esta reportagem, um ensaio sobre alguém que desafia a ordem das coisas, constitui um dos mais importantes momentos para respirar fundo. A referência constante aos cães, mais que animais de companhia, menos que pessoas? Apenas aqueles bichos que ocupam a casa, vivem, morrem, ausências doridas e presenças queridas, todo este universo não tem carimbo. Caminho importante, pelo menos na minha cabeça ecoa «This world is bullshit». Que o é. E há pessoas difíceis. Que o são, não por questões de mau feitio, mas porque se recusam a acreditar no sucesso. Nos mecanismos dessa existência pejada de enganos, infeliz reconhecimento entre quem e quem? A página Instagram de Fiona é quase vulgar, não há nada para ver.

Tenho ainda o sabor amargo dos anos que perdi sem perceber as pedras da serra de sintra, as paisagens, árvores, telhados, o fumo de queimadas, os cheiros de estrume e terra molhada, o pó do Verão, as ervas secas, as hortas abertas à rega pela força de uma enxada pequena por puro divertimento. Como foi possível não perceber que estive mesmo perto de Fiona? Porque estive sempre mal acompanhada? Não será uma boa resposta, sendo esta a verdade. Pois fionar com felicidade e a tristeza não dependiam do trabalho, mas da capacidade de trabalhar fionamente  e isso sei fazer embora sem a capacidade de resolver. Tive tudo nos meus dedos. Contudo, há fionamentos a correr-me no corpo marcado, que o sinto: som da água a correr pelas valadas, barcos de cascas de nozes, folhas canoas, palhinhas do feno alimento dos bichos a construir barragens de engenheira diplomada pela inteligência e saber infantil. Sempre do melhor.

O que se pode então fionar? Nada ou tudo. Depressa ou muito devagar que é mais o meu tempo, longo tempo o que levo a ver relva a crescer, a reparar que as glicínias morrem porque têm que dar lugar a outra estação do ano até chegar a minha vez de desaparecer sem necessidade alguma de me fazer notar à força toda. E isto é fionar. Longe da culpa de quem não produz como os restantes, o fazer do dia a dia, cansada, lavar, ler, limpar o chão e textos. Corrigir, ler, reler, adormecer.

 

Fionar. Fionar não é para todos e sequer fácil. Uma rua de Verão ao sol, quente, quente quente ou de Inverno gelado, o vento a gelar a pele.

 

Gosto muito da fotografia em que Fiona aparece encostada, encolhida a um canto de uma cama, canapé? belíssima a olhar para quem? Não sei. 

 

Este é o poema:
 

Ladies, ladies, ladies, ladies
Ladies, ladies, ladies, ladies
Ladies, ladies, ladies, ladies
Ladies, ladies, ladies, ladies

Ruminations on the looming effect
And the parallax view, and the figure
And the form, and the revolving door that keeps
Turning out more and more
Good women like you
Yet another woman, to whom I won't get through

Ruminations on the looming effect
And the parallax view, and the figure
And the form, and the revolving door that keeps
Turning out more and more
Good women like you
Yet another woman, to whom I won't get through

Ladies, ladies, ladies, ladies
Take it easy, when he leaves me, please be my guest
To whatever I might've left
In his kitchen cupboards, in the back of his bathroom cabinets
And oh yes, oh yes, oh yes
There's a dress in…

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